terça-feira, 21 de junho de 2011

A VERDADE E A ESPIRITUALIDADE





Por Diego Bruno de Souza Pires
Servo do Senhor Jesus



Aos sábados, quando estou com o tempo mais livre, costumo divagar sobre algumas questões importantes, porém, pouco apreciáveis ao paladar intelectual dos mais jovens. Creio que a adolescência atual não busca muito a inquirição psicológica para o desenvolvimento de uma resposta; mas, influenciados pela substancialidade da modernidade, buscam respostas rápidas, objetivas e prontas, semelhante à comida fast food. As pessoas não querem mais saborear a conquista de se descobrir as respostas, mas querem encontrá-las já prontas, apostiladas, resumidas, fáceis de serem digeridas e armazenadas na mente.



Não se dá mais atenção às concepções “barrocas”, projetadas com o amadurecimento de milhares de anos, brilho intelectual da sensibilidade, do prazer pela apreciação; da emoção de se construir um bom discurso, e subir no púlpito do seu coração para aclamar a razão dos sentimentos, a beleza dos versos e o encontro com a simplicidade de valorar uma descoberta.



A pós-modernidade, inspirada num Estado Capitalista cibernético, inverte os valores. O caos se revela diariamente nas concepções modernas. A falta de sentimento é a vez. Não há prazer em descobrir os sentimentos, mas de escondê-los. A materialidade vale mais do que qualquer sentimento, sonho ou alegria. Tudo pode ser comprado pelo fato da própria sociedade atribuir preços a tudo. A honestidade, a ética, os bons costumes, e até mesmo a fé pode ser objeto de transação.



Através da doutrina imediatista implantada pelo mundo capitalista, as questões – por falta de tempo e de digestão intelectual – passam despercebidas pelas sociedades. Esse mundo caótico não nos proporciona mais a construção das nossas próprias histórias, mas simplesmente nos entusiasma a comprar histórias que não são nossas, que não estão em nossos corações; histórias moldadas, empacotadas e empilhadas em “prateleiras de supermercados”, com garantia de fácil concretização e pouco esforço.



Os homens estão moldados a adquirir, comprar, negociar conceitos e valores, e não em criá-los. As mentes já estão vinculadas a absolver informações, e não em produzi-las. Não se vive no amor e para o amor de Deus, nem ao menos fundamentado para ajudar o próximo, sensibilizando-se com as suas dores. Porém, simplesmente, para cumprir metas individualistas.



Aqui no nordeste, usa-se muito o brocardo popular “minha farinha pouco, meu pirão primeiro”, como acepção egoísta das relações sociais. O capitalismo nos coloca num palco de conflitos, de digladiações diárias, guerras, combates, e não num palco amistoso de amor, compreensão e solidariedade com o nosso próximo.



Não é mais costume fazer as coisas em busca da felicidade, de sonhos, da realização pessoal; mas em busca do dinheiro, da materialidade. Eu compreendo que às vezes é salutar pensar assim, até mesmo para fixar no chão os pés dos lunáticos. Agora, viver vinte quatro horas em busca do dinheiro, isso já é demais. Dessa forma, os interesses materiais têm falado mais alto que os interesses da alma.



Atualmente, as pessoas são controladas por relógios, e não pelas suas próprias sensações. O relógio controla todos os movimentos do homem. Há uma robotização das vidas, dos sentimentos e até mesmo das expressões. Programa-se não só o horário de acordar, dormir, tomar banho, acender a luz do quarto, fazer xixi, beber água, mas, sem sombras de dúvidas, até mesmo o horário de sorrir, de amar, de dar um abraço, de agradecer ou de ser cordial com os nossos semelhantes.



Como resultado, percebemos que a espontaneidade e a liberdade não estão mais no cardápio dos humanos, uma vez que contrariam a “dinâmica” da biomecânica capitalista. O homem não precisa mais ser um ser pensante para viver bem sob o domínio desse sistema, basta ser um ser anódino e frígido com os sentimentos, mas absurdamente profícuo com as absorções conteudista.
Hoje, tudo é rigorosamente cronometrado, sem margens para extrapolar os sentimentos, até porque é reprimida a sensibilidade quando criança e jovem. E assim, verificamos que a subjetividade do indivíduo fica sucumbida por uma objetividade artificial imposta pela modernidade, deixando sobressair os interesses no lugar dos sonhos.



Tendo isso em mente, comecei a examinar a ponta do iceberg que estava sendo projetada aos meus olhos. O iceberg poderia, além de encalhar o nosso barco da vida diante da compreensão da palavra de Deus, flexibilizar a nossa compreensão de fé, relativizando-a ao ponto de fé não ser mais fé, e sim expressão de interesses.



Projetada como uma compreensão relativizada/diminuída em favor da celeridade, imediatividade e superficialidade dos acontecimentos, cursa-se – e por sinal, muito fácil - o entendimento das coisas através de uma concepção niilista, prevendo-as como sincronias dos nossos interesses. Ou seja, se a concepção do outro estiver de acordo com os nossos ideais, estará de acordo com a moralidade, a religiosidade, a ética, os bons costumes etc. Agora, se as concepções não estão do nosso agrado, tentamos expurgá-las dessa esfera de acepção para seguir as linhas do nosso pensamento solitário.



Diante dessa minha inquirição inicial, cabe encaixar a pergunta central que desde o início pretendia efetuar: será que realmente a fé é liderada por um sentimento, uma vontade espontânea e real, presente nos corações dos fieis, ou se revela como busca de interesses obscuros?



Antes de buscar resposta para essa pergunta, recordemos um pouco a história do povo de Deus guiado pelo deserto...



Consta-se no livro de êxodo, que o povo judeu, outrora escravo no Egito, tinha por seu guia Moisés, servo do Deus Vivo. Moisés era instrumento, Deus era a ação. Quanto mais abismos o povo enfrentava, mais Deus exaltava seu povo; quanto mais tempestades de areia adviessem, Deus fortalecia as forças do seu povo e lhe mostrava bondade. Não obstante, o povo sempre apresentava um olhar de soslaio na dimensão dos acontecimentos que Deus proporcionava.



Não havia ação que conquistasse a fé do seu povo por muito tempo. Num dia o povo cria veementemente, construindo um rochedo de fé em seus corações; noutro dia, por mais simples provações, tudo era demolido em fração de segundos. A fé do povo não se postergava na eternidade, apenas projetava-se a curto espaço de tempo.



Deus fazia o mar se abrir diante dos olhos de todos que caminhavam pelo deserto, fazia surgir alimentos para saciar a fome; concedia a sua mão como cobertor para proteger o povo do frio e como nuvem pacificadora do calor em dias quentes. Ele livrava o seu povo das guerras e acalentava-o com uma paz interior absoluta. Deus nada deixava faltar, tudo era na sua justa medida e proporção. E mesmo assim, no povo faltava a fé.



Com esse amor e cuidado, Deus ainda ouvia as lamúrias desse povo; por sinal, fundamentadas na falta de fé. Todas as vezes que o povo murmurava, demonstrava-se descrente com as promessas de Deus. Você não pode imaginar a tristeza de um pai que tudo fazia pelos seus filhos, e esses ainda o rejeitavam...



As lamúrias projetaram-se por longos 40 anos. Tempo suficientemente necessário para que Deus trabalhasse no coração do seu povo e promovesse salvação. Os mais desatentos perguntarão por que Deus demorou tanto para levar o seu povo à terra prometida.


E aí não há mistérios...



Deus sempre quis o seu povo na terra prometida que emanasse leite e mel, mas para que isso fosse possível, fazia-se premente a constatação de mudanças entre os “fieis”. Deus não apresenta bênçãos a quem não quer mudar. Como ele poderia presentear um povo perverso, descrente, desamoroso e rebelde? Não, isso contrariaria a correção de Deus. Entretanto, em muitas circunstâncias, com um coração de pai, agiu com misericórdia e socorreu o povo de Israel.



Irmãos, não é simples servir a Deus, uma vez que temos de abdicar das coisas que nos afronta diante de sua santidade. Para segui-lo temos que fazer algumas escolhas, e muitas delas doem na matéria; todavia, fortalece a alma e engrandece a nossa espiritualidade diante de Cristo.



Quando nos entregamos a Deus, há necessidade de se fazer uma faxina na nossa vida, distanciando-nos dos maus pensamentos, reconhecendo os nossos erros, organizando as nossas vidas e capacitando-nos a mudar de atitudes e almejar uma vida de santidade com Deus.



Não foi por acaso a permissão de Deus para que o seu povo andasse durante quarenta anos pelo deserto. Ele achou necessário, primeiramente, existir uma verdadeira conversão antes de empossá-los na terra. E para isso, fazia-se premente que a fé fosse reinante no coração desse povo. Como se sabe, na realidade não foi o que aconteceu, pois restou apenas um servo dentre uma multidão de 600 mil homens (fora crianças e mulheres), digno de colocar os pés na terra prometida.



Então eu pergunto: será que atualmente o povo que segue a Deus também não tem a sua fé fragilizada pelas muitas adversidades encontradas em seus caminhos?



Creio que há um impacto nas vidas dos servos de Deus quando passam a aceitá-lo como Senhor e Salvador – pois foi o que aconteceu comigo. Houve uma mudança profunda em minha alma e em meu coração, pois sabia que eu além de querer ser diferente, eu realmente deveria ser diferente.
Compreendo que muitos são incapacitados a suportar a renúncia do mundo e viver através do coração e da vontade do Senhor. Consequentemente, eles abandonam o barco, “pedindo pra sair” no porto seguinte. Ahhhh! Acha que é brincadeira servir e seguir o Senhor? Isso é para aqueles que são fortes, determinados, e, sobremaneira, libertos de si mesmos.



Como relata a bíblia, muitos desistiram de seguir a Moisés e voltaram para o Egito, preferindo a escravidão à viver guiados pela fé e pelo coração de um homem ouvinte da voz de Deus.



Irmãos, isso não me surpreende mais, pois a fé não é suficiente para os que não querem e nem pretendem crer. Muitos não entendem a fé como uma conquista transcendental, fonte de intimidade do homem com Deus, como prova de amor e de confiança na sua representação viva em nossas vidas, mas como sinônimo simplesmente de “teologia científica”. E assim, através desse entendimento, a fé perde o seu sentido de “crer sem ver” e passa a ter um sentido de ciência humana, usando de compreensão “ver para crer”.



Aqui façamos uma ressalva: quando entendemos fé como sinônimo de teologia científica pura, o livro sagrado deixa de ser uma direção de fé e de espiritualidade, para ser aceito simplesmente como um livro histórico, poético, místico, filosófico e sociológico, tendo em vista que a CIÊNCIA teológica capitula na cientificidade suas respostas. Aí também está a razão para aqueles que ainda dormem.



Por entender a palavra de Deus como “teologia simplesmente científica”, entregando aos cientistas a razão de tudo, impõe-se outro sentido à fé: metafísica teleológica. Aquilo que não for aceito pelos cientistas, passará a ser explicado através da compreensão da parapsicologia, da física, da química e da medicina, mas nunca compreendida como bênçãos de Deus, algo que não há capacidade de compreensão, pois é aquilo que está acima de todas as ciências.



Às vezes eu fico me perguntando até que ponto nós seríamos capazes de enfrentar problemas em nome da nossa fé, ou até que ponto abdicaríamos de nós mesmos em prol da palavra de Deus. Aí eu me perguntei: quanto vale a fé?



Por não ser algo fácil de responder, me fiz mais perguntas, e deixo como forma de reflexão para os irmãos que lêem os textos aqui postados neste blog:

a) quantos estão dispostos a entregar seu filho único como prova de amor a humanidade? Será que você seria capaz de entregar a Deus seu filho como prova de amor, assim como fez Abraão?


b) Caso viesse um homem de Deus alertar-nos do fim do mundo, e determinasse a construção de uma grande barca – igual fez Noé – será que acataríamos a determinação de Deus?


c) Caso adviesse sobre nossas casas à miséria financeira e a desgraça de perder todos os filhos, bens, e até mesmo a nossa saúde, continuaríamos firmes em Deus – igual fez Jó – ao ponto de nos humilharmos e ainda agradecer pelo seu amor?

É... perguntas são melhores que respostas. Muitas vezes não há como dimensionar a nossa fé, mas é salutar vigiá-la até que Cristo venha. Devemos diariamente engrandecer a nossa espiritualidade, almejando o amor de Cristo como removedor dos nossos problemas. Não há fracasso para aqueles que realmente crêem em Deus, pois tudo será prosperidade.



Vejamos o que Deus tem dito para os que o amam:

"O justo viverá pela fé." (Gálatas 3.11), pois “sem fé ninguém pode agradar a Deus, porque quem vai a ele precisa crer que ele existe e que recompensa os que procuram conhecer melhor” (Hb 11.6).

Então irmãos - como está escrito na palavra de Deus - vocês só poderão ser abençoados e viver em Cristo Jesus se existir fé dentro de vocês. Caso contrário, não sei o “quê” e no “quê” estão vivendo... mas de graça de Deus, tenho certeza que não.



É lindo saber que muitas pessoas estão se convertendo ao evangelho de Jesus. Na verdade há até muitos famosos que buscam o rótulo de “crente”. Sem sombra de dúvidas, é algo fantástico. Contudo, deve ser evidenciado que não é apenas a conversão, a participação do ritual de batismo que torna o homem CRENTE, todavia, é seguir os passos de Cristo, sem querer que Cristo siga os nossos passos.



Há alguns pastores – o que é uma tristeza – que levados por uma onda de volumosa conversão de famosos, começam a relativizar a palavra de Deus para adequá-la as conveniências dessas pessoas. Há “crente” que faz filme pornô, que sai nu em capas de revistas, que comanda o percurso do carnaval, etc. Isso é algo teratológico!



Não existe jeitinho de ser crente. Ou se é crente ou não, ponto final! A ovelha deve-se adequar no caminho do rebanho, e não viver em percursos paralelos. Atitudes assim acabam envergonhando o nome de Cristo.



Os servos de Deus deverão ser exemplos e viver em fé e pela fé, pois somente aí encontraremos a Deus. A fé deve ser um axioma dentro de nós mesmos, isento de qualquer motivação que não seja simplesmente o recrudescimento da nossa confiança e esperança em Cristo Jesus.


Que o amor de Cristo possa nos unir na fé...
Deus abençoe-nos


ORAÇÃO

Deus, não consintas que eu seja o carrasco que sangra as ovelhas, nem uma ovelha nas mãos dos algozes.

Ajuda-me a dizer sempre a verdade na presença dos fortes, e jamais dizer mentiras para ganhar os aplausos dos fracos.

Meu Deus! Se me deres a fortuna, não me tires a felicidade;

Se me deres a força, não me tires a sensatez;

Se me for dado prosperar, não permita que eu perca a modéstia, conservando apenas o orgulho da dignidade.

Ajuda-me a apreciar o outro lado das coisas, para não enxergar a traição dos adversários, nem acusá-los com maior severidade do que a mim mesmo.

Não me deixes ser atingido pela ilusão da glória quando bem sucedido e nem desesperado quando sentir insucesso.

Lembra-me que a experiência de um fracasso poderá proporcionar um progresso maior.

Ó Deus! Faz-me sentir que o perdão é maior índice da força, e que a vingança é prova de fraqueza. Se me tirares a fortuna, deixe-me a esperança.

Se me faltar a beleza da saúde, conforta-me com a graça da fé.

E quando me ferir a ingratidão e a incompreensão dos meus semelhantes, cria em minha alma a força da desculpa e do perdão.

E finalmente Senhor, te rogo, nunca Te esqueças de mim! Ainda que um dia o meu juízo possa se afastar de mim, não esqueça-me.